Os gatos são famosos por se lamber com frequência, um sinal de higiene, mas como sua língua consegue deixá-los tão limpos sempre foi um mistério. Os cientistas já sabiam que a língua dos felinos é recoberta por estruturas semelhantes a espinhos, e agora um grupo de engenheiros descobriu que elas se assemelham a garras, agindo como um tipo de Velcro que otimiza a limpeza da pelagem.
As descobertas podem ajudar os engenheiros a projetar robôs capazes de se aderir a superfícies, criar escovas de cabelo mais eficientes e melhores formas de limpar feridas, afirmaram os pesquisadores.
Alexis Noel, engenheira mecânica do Instituto de Tecnologia da Geórgia, em Atlanta, começou a investigar os espinhos depois de observar seu gato lamber um cobertor e prender a língua.
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"Eu me perguntei como um tecido tão macio e úmido podia se prender com tanta facilidade”, explicou Noel. "Depois de algum esforço, meu gato descobriu que podia soltar a língua empurrando o cobertor, em vez de puxá-lo”.
Usando câmeras de alta velocidade, Noel e seus colegas filmaram um gato removendo alimentos profundamente encravados em um tapete peludo impresso em 3D. Eles também imprimiram em 3D um modelo quatro vezes maior da língua de um gato para testá-lo. "Somos os primeiros a imprimir um modelo tridimensional que imita a língua de um gato”, informou Noel.
Os cientistas observaram que os espinhos da língua são curvos e afiados, semelhantes às garras dos gatos, e agem como uma espécie de Velcro. Quando o felino aproxima a língua dos pelos, os espinhos se aderem a eles.
Além disso, "quando a língua do gato encontra um obstáculo, ele se prende nesses ‘ganchos’, que giram para penetrar ainda mais nos fios”, explicou Noel. "A mobilidade dos ganchos permite que o gato desembarace os pelos com mais facilidade”. Essa rotatividade também ajuda na retenção de outras partículas, o que ajuda o felino a pegar comida, acrescentaram os pesquisadores.
Noel pretende iniciar uma nova pesquisa para descobrir como o espaçamento entre esses espinhos e a camada lubrificante de saliva na língua ajudam os gatos nos cuidados com os pelos, apesar de nem sempre ser uma prática prazerosa.
"Embora a saliva remova a sujeira e a gordura, pesquisas anteriores demonstraram que a umidade aumenta o atrito entre os pelos, o que faz com que a língua os arranque, causando dor”, explicou Noel.
“Também queremos adquirir línguas de tigres, leões e outros grandes felinos para entender a escala dos espinhos na família dos gatos”, informou Noel. "No entanto, línguas de animais exóticos são difíceis de localizar e obter, o que dificulta o estudo”, acrescentou.
A pesquisa pode ajudar os cientistas a projetar robôs capazes de agarrar objetos, disse Noel. Enquanto os robôs convencionais são rígidos e podem sofrer quedas e arranhões, os robôs moles, feitos de plástico flexível e borracha, são mais resistentes e podem atravessar obstáculos.
"No mundo da robótica mole, os pesquisadores ainda lutam para desenvolver materiais leves que se agarrem a superfícies”, explicou Noel. “A pesquisa sobre a língua dos gatos pode ajudá-los a superar esse desafio: elas são flexíveis como os membros dos robôs moles e podem desenroscar nós nos pelos”, acrescentou.
Segundo a pesquisadora, tais pesquisas também podem levar à criação de escovas de cabelo mais eficazes. "A primeira escova remonta ao ano 8.000 a.C. Desde então, seu design pouco mudou. Queremos entender como desembaraçar os cabelos de forma menos dolorosa, e como a língua dos gatos pode ser reproduzida em escala para ser compatível com o cabelo humano, fornecendo um novo design para a escova tradicional”.
A descoberta também pode levar a escovas mais fáceis de limpar. "Uma escova normal tem cerdas que se projetam para fora, e os fios que se acumulam precisam ser removidos à mão”, explicou Noel. Em contraste, quando não estão sendo usados, os espinhos da língua dos gatos se alinham contra sua superfície como placas planas e sobrepostas. Isso permite que "os pelos acumulados nos espinhos sejam removidos com facilidade. É por isso que os gatos engolem os pelos e acabam formando bolas de pelo no estômago”, conclui.
“Vamos desenvolver a tecnologia que imita a língua dos gatos no Instituto de Tecnologia da Geórgia, onde pretendem falar com consumidores, especialistas em beleza e em equipamentos médicos para identificar potenciais aplicações”, revelou Noel. "Registramos uma patente provisória dessa tecnologia e pretendemos desenvolver um produto ao longo do ano que vem”.
Noel disse que outros cientistas questionaram como eles pretendem comparar a eficiência das réplicas da língua felina com a das escovas normais. "Acabo de desenvolver uma máquina de pentear que arrasta escovas através dos fios de cabelo e mede as forças de resistência”, explicou a pesquisadora. "Dessa forma, podemos comparar as forças de atrito associadas à escovação com as propriedades materiais tanto dos cabelos como da escova”.
Fonte: brasil.discovery.uol